A palavra Niilismo surgiu do latim nihil, que significa nada. O Niilismo é um fundamento filosófico que atinge as mais variadas esferas do mundo contemporâneo, cuja principal característica é uma visão cética em relação às interpretações da realidade, que aniquila valores e convicções. Portanto, é a desvalorização e a morte do sentido, a ausência de finalidade e de resposta aos “porquês” existentes no mundo.
Vários pensadores abordaram essa temática, mas um dos grandes pensadores que discorre sobre o tema, é Nietzsche. Friedrich Wilhelm Nietzsche foi um filósofo, escritor, poeta, filólogo e músico alemão. É considerado um dos mais influentes e importantes pensadores modernos do século XIX. Em suas obras, formulou críticas à cultura, religião e filosofia ocidentais. Defendeu a desconstrução dos conceitos que integravam a cultura ocidental do século XIX. Defendia a ideia de que para libertar, o pensamento deveria ser livre de qualquer forma de controle cultural e moral.
O Niilismo em Nietzsche é um fundamento filosófico que precisa ser debatido. Para ele, o Niilismo não é algo misterioso, mas também se diferencia daquilo que se entende popularmente pelo termo. Quando se fala de Niilismo, é comum entender que se trata da negação de quaisquer valores. Nietzsche leva o termo para um caminho diferente, se referindo a ele como uma negação da vida.
Nietzsche nos mostra quatro tipos de Niilismo, o primeiro nomeado de Niilismo Negativo, que busca como base Platão, o segundo seria o Niilismo Reativo, com base em Kant, já o terceiro tem bastante traços de Schopenhauer, que se nomeia como Niilismo Passivo, e o último e não menos importante, o Niilismo Ativo.
O Niilismo negativo se gerou no platonismo e posteriormente no cristianismo. Alguns filósofos acreditam que o niilismo negativo deu origem a todos os outros tipos de niilismo. Esse niilismo consiste na negação do mundo perceptivo, a busca de um suposto outro mundo, paraíso ou qualquer idealidade, seja na terra, seja em qualquer outro planeta supostamente habitável ou ainda em algum mundo imaterial. Nietzsche argumenta que esse tipo de niilismo deteriora a vida pelo fato de negar o corpo (instintos, paixões) ou seja, negação da vida em prol de valores superiores.
Com isso abre mão de viver intensamente do presente, com receio de não ser contemplado por uma vida eterna. Platão foi um dos primeiros pensadores a declarar que esse mundo em que vivemos é um mundo de aparências ilusórias, que tudo muda, logo a verdade não pode existir nesse mundo de mudanças, por isso existia outro mundo em que nada muda, pois é verdadeiro. Assim, consequentemente o cristianismo teria se adequado as ideias de Platão, por acreditar em uma vida após a morte, que é melhor, pura e eterna.
O niilista negativo nos mostra que viver na terra tem só um sentido, colocar seu olhar para o além. Ele acredita que essa vida é somente uma passagem para uma vida melhor, perfeita e imutável. Portanto, a vida é depreciada, o homem se martiriza nessa vida esperando uma “recompensa do futuro”, que para Nietzsche não existe.
Discutiremos agora sobre o segundo niilismo, o niilismo reativo. Quando falamos sobre este niilismo, logo ouvimos “Deus está morto”, é uma frase que pode ter várias interpretações, Deus não existe ou ele de fato está morto. O que Nietzsche quis realmente dizer não tem nada a ver com essa questão. A primeira vez que essa frase surgiu foi em seu livro a gaia ciência, “Os deuses também apodrecem e deus morreu, deus está morto! E nós o matamos.”.
O niilismo reativo é a perda de valores e costumes cristãos, valores que hoje são conhecidos como leis, como, não matar, não roubar, entre outros. São valores doutrinados e vem conosco, antes de nascermos, devido ao contato social. Mas não foi Nietsche que surgiu com este pensamento, começou muito antes, com os iluministas ou com algumas obras de arte no próprio renascimento. É preciso frisar que a perda dos valores cristãos, pode ter pontos positivos e negativos. Os pontos negativos são a perca de alguns “bons” costumes, como a moralidade e a empatia.
Afinal o que iria impedir uma pessoa de roubar ou matar? Se não, leis ditas por um ser superior aos olhos humanos, que nos castigará após a morte. É onde notamos os pontos positivos desta doutrina para o homem. será que a evolução do homem foi presa a um sentimento? Será que o medo movia o homem e ainda move? Pode pensar que um homem que não seja doutrinado, mas tem seus próprios princípios de moralidade e então esse homem seria alguém além de nós ou como Nietsche chama “super-homem”.
O Niilismo passivo então, é o terceiro tipo de niilismo, é o que atinge a “nada de vontade”. É a forma mais sombria e vazia dos estágios do niilismo, o ser humano se encontra frente a um abismo e não há respostas para nenhuma pergunta, a pouca credibilidade que se tinha em um sentido da vida ou a busca para se ter sentido, já não existe mais para este niilista. O pessimismo é bem mais forte do que era, toda aquela busca insaciável por respostas, para encontrar um sentido para a vida, para o mundo, foi totalmente em vão para este niilista, pois o mundo realmente não tem e não faz qualquer sentido. Portanto, ele vive uma vida de passado, se martirizando por ter perdido tempo em busca de tudo isso, para então, chegar a este estágio e perceber que o mundo é definitivamente nada e, que todas as perguntas feitas nunca terão respostas.
Esta forma de niilismo, é conhecida como “Nada de vontade”, ao invés de “Vontade de nada’, porque segundo as concepções de Nietzsche e Schopenhauer, o ser humano pode ter vontade do nada, mas é quase impossível deixar de ter vontade. Então, o niilismo passivo se nomeia assim, pelo fato de que o ser humano não enxerga mais razões para nada e, não há nada de vontade, não existe nem mesmo forças para acabar com o sofrimento.
O último homem não quer valores nem divinos nem humanos, estamos para além do cristianismo, passamos pelo budismo e chegamos no fim: nenhum deus e um só rebanho. Até mesmo o mar secou! As duas formas anteriores ainda tinham em que se segurar, ainda tinham uma vontade de nada, mas o niilista passivo passa para o nada de vontade. É aquele que prefere extinguir-se passivamente. São mortos-vivos: “É preferível um nada de vontade do que uma vontade de nada!”, diz aquele que quer morrer. (RAZÃO INADEQUADA, 2016)
Nietzsche aprofundou seus estudos sobre este niilismo de acordo com a filosofia de Schopenhauer, que dizia que tínhamos que nos esvaziar das vontades, porque a vontade do ter sempre sucede ao vazio, o ter sempre será infinito e, ao ter vamos querer ter outra coisa e assim, se torna um ciclo vicioso, nos impedindo do viver.
Estamos em estado terminal. Aos poucos, a vontade de potência se esgota no niilismo, ela vaza, escoa, procura afirmar-se em outros lugares. O homem cada vez mais doente tem cada vez menos capacidade de afirmar-se. A chama se apaga, surge a escuridão sem fim. Mortos-vivos não encontram vida dentro de si (mesmo ela estando lá), mas ainda se movem. (RAZÃO INADEQUADA, 2016).
Enfim chegamos ao último niilismo, o ativo, que segundo Nietzsche, representa a chegada de um novo tipo de homem, o “super-homem”, capaz de ultrapassar esses valores instalados, há mais de dois milênios, pela religião e pela metafísica, que dão sentido à vida ligando ao que ela nunca foi, nem nunca será. Esse novo homem é ativo, ele cria, constrói valores que dignificam cada momento da vida. É o homem do “amor fati”, que investe na intensidade da vivência do fato, ou seja, na intensidade de cada momento vivido, por mais duro que seja. Zaratustra surge como esse super-homem, ou seja, um homem que supera a si mesmo a cada momento que passa.
O Zaratustra se mostra como marco para a transvaloração, a partir dele, novos valores são criados. Nietzsche o considera como aquele que fala de coisas nunca vistas, que exprime de forma máxima sua vontade de potência. É assim que ele se torna o que é, supera-se, transformando-se em adversário proclamado da concepção de grandeza que até então era cultivada entre os homens. Zaratustra não espera encontrar homens a ele semelhantes, ele contenta-se em ser sozinho.
Outro termo que se mostra bastante enigmático nos escritos de Nietzsche, e que é indispensável para se falar da afirmação da vida ou superação do niilismo é o eterno retorno. O tema do eterno retorno aparece somente quatro vezes no transcorrer das obras do filósofo.
Seguindo a linha histórica das obras publicadas de Nietzsche, pode-se dizer que a segunda e terceira vez em que essa expressão aparece é exatamente na obra “Assim falou Zaratustra”, especificamente nos capítulos de nome “O convalescente” e “Da visão e do enigma”. Por fim, o tema também chega a aparecer em Além do bem e do mal, no aforismo 56. É importante também enfatizar que o eterno retorno nunca aparece como uma teoria ou mesmo uma tese, mas sempre se mostra como hipótese. Nunca é posto na forma de uma definição, mas sempre no estilo poético. Parece que o Eterno Retorno defende a tese de que polos se alternam nas vivências numa eterna repetição, criação e destruição, alegria e tristeza, saúde e doença, bem e mal, belo e feio e afins, tudo vai e tudo retorna. Porém, esses polos não se opõem, mas são faces de uma mesma realidade, isto é, um complementa o outro, são contínuos de um jogo só. Alegria e tristeza são faces de uma única coisa, uma única experiência com grau diferente.
A indagação que Nietzsche nos faz através do aforismo acima, não se trata de uma negação da vida, pelo contrário, nos remete a uma afirmação da vida. Não posso crescer se não experimento declínio, são faces de uma mesma moeda sem demarcação de tempo e exatidão
Referências:
ANÔNIMO. O que é o Eterno Retorno: Nietzsche. Eterno Retorno, 2008. Disponível
em:
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