
Nesse capítulo intitulado “Unidade e diversidade na cultura popular”, o autor Peter Burke inicia nos passando um ponto de vista sobre as classes altas e a “pequena tradição”, também fala das variedades que a cultura popular tem, quanto no campo, quanto nas cidades, incluindo as variações religiosas e regionais. Tudo isso na Europa, temporalmente no período da Idade Moderna. Mas nessa breve resenha focarei mais em transmitir a você leitor, o conhecimento de Peter Burke sobre cultura popular.
O autor afirma que: “Se todas as pessoas numa determinada sociedade partilhassem a mesma cultura, não haveria a mínima necessidade de se usar a expressão “cultura popular”.” (BURKE, 1978), mas vimos que uma minoria, no caso a elite, já sabia ler e escrever, até mesmo em latim, que era a língua dos cultos, e a maioria era analfabeta.
Com isso, Burke mostra um modelo mais complexo de “organização cultural”, esse modelo foi apresentado nos anos 1930 por Robert Redfield. O antropólogo Redfield sugere que, “Em certas sociedades, [...], existiam duas tradições culturais, a “grande radição” da minoria culta e a “pequena tradição” dos demais.” (REDFIELD apud BURKE, 1978). No caso a “grande tradição” era cultivada por meio das escolas ou templos, já a “pequena tradição” se estruturava pelo meio dos próprios iletrados, pelas suas comunidades aldeãs, mas mesmo assim as duas eram interdependentes.
Uma característica interessante era que a “grande tradição”, a elite, participava da cultura popular, no caso a “pequena tradição”, em momentos festivos era extremamente visível, como um grande exemplo, o Carnaval, era um momento comemorativo que todos participavam. Mas não era só em festas que todos se reunião, pelo menos nas cidades nos sermões todos ficavam juntos, ricos e pobres, nobres e plebeus, e assim por diante, mas o povo comum não participava da “grande tradição”.
O clero também tinha sua participação na cultura popular, em particular no século XVI. Durante o carnaval, homens eram autorizados a se divertir, podiam dançar, encenar, se vestir a caráter, tocar instrumentos, as freiras também eram livres para se divertir, mas apenas vestidas como homens, assim ainda vimos como a cultura ainda é bastante patriarcal.
Com os estudos sobre a cultura popular, os descobridores da mesma, definiram que o “povo” eram os camponeses, já que a população da Europa era formada por 80% a 90% de camponeses, pelo causa de serem a maioria da população europeia, suas canções, suas danças e às suas estórias, começaram a se encaixar no termo cultura popular, por eram feitos por camponeses para os próprios camponeses.
Mas um detalhe importante é que a cultura popular não é homogênea, como diz Kodály, “[...]. Ela varia fundamentalmente segundo a idade, as condições sociais e materiais, a religião, a educação, o local e o sexo.” (BURKE, 1978), pelo fato que a cultura surge com o modo de vida, e sendo que os camponeses do início da Europa moderna não tinham um modo de vida uniforme, com esses fatos confirmamos que não é homogênea a cultura popular.
Mesmo dentro do campesinato, não era homogênea, o campesinato era composto por camponeses com menos capital, e os camponeses com mais capital, tinham uma probabilidade de serem letrados, por ter mais tempo para os estudos de leitura e escrita, também pelo fato de serem ricos tinham fácil acesso a compra de livros de baladas e estórias. Arqueólogos ressaltam as diferenças entre zonas pobres e zonas ricas, as principais característica são as diferenças de linguagem, de tipos de casas, e outras características culturais.
Os dois lados dessa moeda chamada cultura, precisam estar juntas, “grande tradição” e a “pequena tradição” por mais variada que fossem, era previsto que existisse uma interação entre elas, como dito no início dessa resenha, as duas são interdependentes. Mas mesmo assim os participantes da “grande tradição” consideram a “pequena tradição” sua segunda tradição, sendo assim podem desfrutar dela, em todos os modos, culturalmente, economicamente, e assim por diante.
Referência
BURKE, Peter. Unidade e diversidade na cultura popular. In: Cultura popular na Idade Moderna: Europa, 1500-1800. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. cap. 2, p. 50-100.