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domingo, agosto 28, 2022

RESENHA - "Polegarzinha" de Michel Serres


Nessa resenha será abordada questões trazidas pelo autor Michel Serres, cujo era um filosofo “vanguardista” francês, teve uma infância um tanto quanto atribulada, sua vivencia em meio de conflitos foi importante para sua formação, nascido em Agen, ao sul da França, no dia 1 de setembro de 1930, vivendo 88 anos e, falecendo em 1 de junho de 2019 na cidade onde morava, Vincennes, também na França. O autor escreveu mais de 80 livros, ao longo de sua vida, livros como: “O terceiro instruído”; "O contrato natural" e o livro que pegaremos para resenhar,  o livro intitulado “Polegarzinha: uma forma de viver em harmonia, de pensar as instituições, de ser e de saber”, mais especificamente focando no último capítulo do livro, chamado de “Sociedade”, cujo o capítulo é dividido em tópicos, nas quais se chamam: “Elogio das notas recíprocas”; “Elogio a H. Potter”; “Túmulo do trabalho”; “Elogio do hospital”; “Elogio das vozes humanas”; “Elogio das Redes”; “Elogio das estações e dos aeroportos”; “Reviravolta da presunção de incompetência”; “Elogio da marchetaria”; “Elogio do terceiro suporte”; “Elogio do nome de guerra”; “Algorítmico, procedural”; “Emergência”; “Elogio do código”; “Elogio do passaporte” e “Imagem da sociedade de hoje”, mas focarei nessa resenha as informações dos três primeiros já supracitado. 

No primeiro tópico, supracitado, o autor nos traz a questão da avaliação do professor, cujo o autor nos diz que na França teve uma certa repercussão nessa discussão, que na opinião do autor, ser uma discussão boba, pois o professor sempre está em avaliação, tanto numa forma formal, por meio das leis escolares e universitárias de avaliação docente, mas também numa forma informal, pelos pensamentos e dizeres dos alunos fora das salas de aulas ou até mesmo na sala de aula, que reflete nos números dos alunos. Como mostra o autor: “[...] Por que, independente da lei, quem assiste às aulas sempre avalia o professor. Havia muita gente na sala e, hoje de manhã, só três ou quatro estudantes? É a sanção pelo número. [...]” (SERRES, 2012, p. 61). O autor ainda nos traz que o sistema de avaliação, sai do âmbito escolar (não se limitando somente na escola), para o âmbito social, através de premiações, publicações, por exemplo, de melhores filmes e séries, melhores restaurantes, outro exemplo, essa resenha aqui, cujo você leitor, já está me avaliando, avaliando minha escrita, minha forma de expor as informações do capítulo de um livro que fora avaliado por pessoas que a leram, e também avaliado pela própria pessoa que ô escreveu.

No tópico seguinte, o autor nos conta sobre os operários, citando um jovem chamado Humphrey Potter, que para o autor, esse jovem mostra a frequente competência dos operários, que se adaptam as questões de quem decide, que são aqueles que ficam distantes, cujo fazem mudanças sem mesmo perguntar aos operários, que são vistos pelos “chefes” (os “homens” que ordenam), como incompetentes. “[...] o operário se limita a uma máquina a ser dirigida, um pouco mais complicada do que aquela em que ele trabalha. Antigamente, no alto, bocas sem ouvidos, embaixo, orelhas sem voz.” (SERRES, 2012, p. 64), como vimos, não existia/existe uma comunicação de quem está em cima, com quem está embaixo, quem é de cima ordenava/ordena sem ouvir quem está embaixo, o debaixo só ouvia/ouve sem direito de “retrucar”, sem poder expor suas opiniões. 

O autor nos diz, que “as melhores empresas colocam seus operários no centro das decisões práticas” (SERRES, 2012, p. 64), saindo assim da forma organizacional de maneira piramidal, dando autonomia ao operário de controlar suas próprias atividades, como diz o autor: “[...] deixam que Polegarzinha controle, em tempo real, sua própria atividade [...], mas também que examine os mandatários, que podem ser o patrão, o médico, o político.”

Na sequência, o autor nos transmite uma certa instabilidade no mercado de trabalho, onde os trabalhadores procuram um determinado trabalho e, assim que encontrado, continuam a procurar, por medo de perde-lo. Além disso, na vivência do trabalho, os trabalhadores acabam se submetendo a responder seus “superiores” (“chefes”) de uma forma que responda, sem comprometer seu emprego, as questões por eles (“superiores”) levantadas. O autor mostra que com o avanço tecnológico a partir da revolução industrial, o trabalho começou a ficar entediante, como podemos ler nesse trecho: 


“A Polegarzinha se entedia no trabalho. Seu vizinho marceneiro antigamente recebia tábuas brutas da serração, situadas em meio à floresta. Depois de deixá-las por muito tempo secar, ele tirava desse tesouro, de acordo com as encomendas, bancos, mesas ou portas. Trinta anos depois, ele passou a receber de uma fábrica janelas já prontas, para instalar em grandes obras com vãos formatados. É um tedio. [...]” (SERRES, 2012, p. 65)


Sabendo disso, podemos dizer que o principal problema seria a capitalização da indústria, ou até mesmo da sociedade como um todo, cujo o capital não seria somente a concentração monetária, mas também dos produtos produzidos pelas indústrias, por exemplo, água nas represas, mineral no subsolo, afastando assim de quem executa as ações práticas e, “O tédio geral vem dessa concentração, dessa captação, desse roubo de interesse.” (SERRES, 2012, p.65).  Com o crescimento da produtividade e o crescimento populacional no mundo, o autor nos diz que o trabalho se torna cada vez mais raro. Foi com as indústrias que houve esse aumento de produtividade e, também o mundo começou a ser prejudicado, pois através das máquinas, que compõe a indústria, se está poluindo e acabando com o meio ambiente, enfim se “[...] depende de fontes de energia cuja exploração destrói as reservas e polui.” (SERRES, 2012, p. 66) não é benéfica, pois o sonho de Polegarzinha era essa questão de fazer as reparações necessárias para que todos que operam sejam felizes e completados em suas funções, traçando uma lista de ações que não polui, nem o planeta e nem a humanidade, já que tudo, os indivíduos e a sociedade, gira entorno do trabalho.

Com essas informações, vemos que a tecnologia pode tanto atrapalhar, quanto auxiliar tudo e todos que formação uma certa sociedade, com as questões trazida pelo autor sobre o tedio no trabalho, podemos ver que o trabalho sendo mais facilmente executado, facilita o mundo, na questão de deixar mais prático, de ser feito mais rápido as coisas, por exemplo, as janelas, as mesas, os edifícios, trazendo para educação, as atividades de casa (“tarefas”), a pesquisa sobre determinados assuntos, a tecnologia deixa tudo isso mais fácil, deixa nos “polegares” dos indivíduos envolvidos, mas a grande questões é: Será que isso que a tecnologia nos facilita, é benéfico para os indivíduos que há utilizam? Será que isso faz com que gerem uma certa autonomia na aprendizagem?

Na minha concepção não gera essa tal autonomia, pois os/as alunos/as acabam ficando dependente da tecnologia, “pra que vou fazer o cálculo se já existe a calculadora”, “por que vou ler o texto se as respostas já estão no navegador do meu notebook”, esses tipos de comentários nos mostram que há um défice na questão da educação tecnológica, a educação deveria/deve acompanhar e evoluir, em tempo real, com o avanço tecnológico. Pois tudo que o avanço tecnológico traz para sociedade é benéfico, mas os indivíduos que há formam devem saber utiliza-las, por que se não souberem, podem acabarem se alienando. 

Referência

SOCIEDADE. In: SERRES, Michel. Polegarzinha: Uma forma de viver em harmonia, de pensar as instituições, de ser e de saber. [S. l.]: BERTRAND BRASIL, 2012. cap. 3, p. 59-94.


RESENHA - "Organização e Gestão da Escola: Teoria e Prática" de José Carlos Libâneo



Nos capítulos nesta resenha abordado, o autor LIBÂNEO (2015) nos passa uma observação na organização escolar, quanto na parte administrativa, quanto nas salas de aula. Ele também nos relata a importância do profissional da educação, no caso o professorado, na organização escolar, além da gestão da instituição, nos mostra que o ambiente de trabalho do professor também é um lugar de aprendizagem da sua própria profissão.

Nesses capítulos o autor mostra como deveria ser a direção escolar, de acordo com LIBÂNEO (2015) “O estilo de gestão adotado pela direção influencia as interações entre as pessoas (professores, alunos, funcionários), determinando as mais variadas práticas e formas de relacionamento.” Esse é um fator muito importante na gestão escolar, se a gestão não for capacitada para a mesma, o sistema da escola será falho. 

Esse sistema escolar pode ser organizado de duas maneiras diz LIBÂNEO (2015) “[...] “cada um por si”, estimulando o isolamento, a solidão e a falta de comunicação”, isso poderia ser considerada uma falha no sistema escolar, pelo fato que começaria na gestão, mas passaria esse problema para outras áreas da escola, fazendo assim os alunos os mais prejudicados; A outra maneira seria estimulando, de acordo com LIBÂNEO (2015) “[...] o trabalho coletivo, solidário, negociado, compartilhado.”, nesse caso todos sairiam beneficiados de alguma forma, quanto na vida individual, quanto na vida social. 

Um ponto importantíssimo da vinculação da escola na sociedade, seria a participação dos pais nas reuniões escolares, para LIBÂNEO (2015) “A participação é o principal meio de se assegurar a gestão democrática da escola, possibilitando o envolvimento [...] no processo de tomada de decisões e no funcionamento da organização escolar.” Para acontecer essa vinculação com a escola e a sociedade, a instituição tem que exigir a participação dos pais, para que a própria instituição não se isole nele mesma. 

Mas uma colocação do autor é concreta, “[...]. Os pais, ao abordar problemas pedagógicos-didáticos, podem assumir uma atitude preconcebida de censura aos professores, num campo em que, a rigor, não são especialistas.” LIBÂNEO (2015), a problemática nesse caso é que a gestão escolar tem que dar a liberdade ao profissional da educação, mas também não podem desconsiderar a opinião dos pais, com isso podemos considerar que a gestão tenha que se colocar em “cima do muro”. 

Com tudo isso em mente, podemos nos questionar que seria um o problema nas organizações escolares? Nas escolhas da gestão? ou a formação da mesma?

Referência
LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão da escola: Teoria e prática. 6. ed. rev. São Paulo: Heccus Editora, 2015. 304 p. 

quinta-feira, agosto 25, 2022

RESENHA - "Cultura Popular na Idade Moderna" de Peter Burke

   


    Nesse capítulo intitulado “Unidade e diversidade na cultura popular”, o autor Peter Burke inicia nos passando um ponto de vista sobre as classes altas e a “pequena tradição”, também fala das variedades que a cultura popular tem, quanto no campo, quanto nas cidades, incluindo as variações religiosas e regionais. Tudo isso na Europa, temporalmente no período da Idade Moderna. Mas nessa breve resenha focarei mais em transmitir a você leitor, o conhecimento de Peter Burke sobre cultura popular. 

    O autor afirma que: “Se todas as pessoas numa determinada sociedade partilhassem a mesma cultura, não haveria a mínima necessidade de se usar a expressão “cultura popular”.” (BURKE, 1978), mas vimos que uma minoria, no caso a elite, já sabia ler e escrever, até mesmo em latim, que era a língua dos cultos, e a maioria era analfabeta. 

    Com isso, Burke mostra um modelo mais complexo de “organização cultural”, esse modelo foi apresentado nos anos 1930 por Robert Redfield. O antropólogo Redfield sugere que, “Em certas sociedades, [...], existiam duas tradições culturais, a “grande radição” da minoria culta e a “pequena tradição” dos demais.” (REDFIELD apud BURKE, 1978). No caso a “grande tradição” era cultivada por meio das escolas ou templos, já a “pequena tradição” se estruturava pelo meio dos próprios iletrados, pelas suas comunidades aldeãs, mas mesmo assim as duas eram interdependentes. 

    Uma característica interessante era que a “grande tradição”, a elite, participava da cultura popular, no caso a “pequena tradição”, em momentos festivos era extremamente visível, como um grande exemplo, o Carnaval, era um momento comemorativo que todos participavam. Mas não era só em festas que todos se reunião, pelo menos nas cidades nos sermões todos ficavam juntos, ricos e pobres, nobres e plebeus, e assim por diante, mas o povo comum não participava da “grande tradição”.

    O clero também tinha sua participação na cultura popular, em particular no século XVI. Durante o carnaval, homens eram autorizados a se divertir, podiam dançar, encenar, se vestir a caráter, tocar instrumentos, as freiras também eram livres para se divertir, mas apenas vestidas como homens, assim ainda vimos como a cultura ainda é bastante patriarcal.

    Com os estudos sobre a cultura popular, os descobridores da mesma, definiram que o “povo” eram os camponeses, já que a população da Europa era formada por 80% a 90% de camponeses, pelo causa de serem a maioria da população europeia, suas canções, suas danças e às suas estórias, começaram a se encaixar no termo cultura popular, por eram feitos por camponeses para os próprios camponeses.

    Mas um detalhe importante é que a cultura popular não é homogênea, como diz Kodály, “[...]. Ela varia fundamentalmente segundo a idade, as condições sociais e materiais, a religião, a educação, o local e o sexo.” (BURKE, 1978), pelo fato que a cultura surge com o modo de vida, e sendo que os camponeses do início da Europa moderna não tinham um modo de vida uniforme, com esses fatos confirmamos que não é homogênea a cultura popular.

    Mesmo dentro do campesinato, não era homogênea, o campesinato era composto por camponeses com menos capital, e os camponeses com mais capital, tinham uma probabilidade de serem letrados, por ter mais tempo para os estudos de leitura e escrita, também pelo fato de serem ricos tinham fácil acesso a compra de livros de baladas e estórias. Arqueólogos ressaltam as diferenças entre zonas pobres e zonas ricas, as principais característica são as diferenças de linguagem, de tipos de casas, e outras características culturais.

    Os dois lados dessa moeda chamada cultura, precisam estar juntas, “grande tradição” e a “pequena tradição” por mais variada que fossem, era previsto que existisse uma interação entre elas, como dito no início dessa resenha, as duas são interdependentes. Mas mesmo assim os participantes da “grande tradição” consideram a “pequena tradição” sua segunda tradição, sendo assim podem desfrutar dela, em todos os modos, culturalmente, economicamente, e assim por diante.


Referência

BURKE, Peter. Unidade e diversidade na cultura popular. In: Cultura popular na Idade Moderna: Europa, 1500-1800. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. cap. 2, p. 50-100.

terça-feira, agosto 23, 2022

NIETZSCHE E O NIILISMO



A palavra Niilismo surgiu do latim nihil, que significa nada. O Niilismo é um fundamento filosófico que atinge as mais variadas esferas do mundo contemporâneo, cuja principal característica é uma visão cética em relação às interpretações da realidade, que aniquila valores e convicções. Portanto, é a desvalorização e a morte do sentido, a ausência de finalidade e de resposta aos “porquês” existentes no mundo.

Vários pensadores abordaram essa temática, mas um dos grandes pensadores que discorre sobre o tema, é Nietzsche. Friedrich Wilhelm Nietzsche foi um filósofo, escritor, poeta, filólogo e músico alemão. É considerado um dos mais influentes e importantes pensadores modernos do século XIX. Em suas obras, formulou críticas à cultura, religião e filosofia ocidentais. Defendeu a desconstrução dos conceitos que integravam a cultura ocidental do século XIX. Defendia a ideia de que para libertar, o pensamento deveria ser livre de qualquer forma de controle cultural e moral.

O Niilismo em Nietzsche é um fundamento filosófico que precisa ser debatido. Para ele, o Niilismo não é algo misterioso, mas também se diferencia daquilo que se entende popularmente pelo termo. Quando se fala de Niilismo, é comum entender que se trata da negação de quaisquer valores. Nietzsche leva o termo para um caminho diferente, se referindo a ele como uma negação da vida.

Nietzsche nos mostra quatro tipos de Niilismo, o primeiro nomeado de Niilismo Negativo, que busca como base Platão, o segundo seria o Niilismo Reativo, com base em Kant, já o terceiro tem bastante traços de Schopenhauer, que se nomeia como Niilismo Passivo, e o último e não menos importante, o Niilismo Ativo. 

O Niilismo negativo se gerou no platonismo e posteriormente no cristianismo. Alguns filósofos acreditam que o niilismo negativo deu origem a todos os outros tipos de niilismo. Esse niilismo consiste na negação do mundo perceptivo, a busca de um suposto outro mundo, paraíso ou qualquer idealidade, seja na terra, seja em qualquer outro planeta supostamente habitável ou ainda em algum mundo imaterial. Nietzsche argumenta que esse tipo de niilismo deteriora a vida pelo fato de negar o corpo (instintos, paixões) ou seja, negação da vida em prol de valores superiores. 

Com isso abre mão de viver intensamente do presente, com receio de não ser contemplado por uma vida eterna. Platão foi um dos primeiros pensadores a declarar que esse mundo em que vivemos é um mundo de aparências ilusórias, que tudo muda, logo a verdade não pode existir nesse mundo de mudanças, por isso existia outro mundo em que nada muda, pois é verdadeiro. Assim, consequentemente o cristianismo teria se adequado as ideias de Platão, por acreditar em uma vida após a morte, que é melhor, pura e eterna. 

O niilista negativo nos mostra que viver na terra tem só um sentido, colocar seu olhar para o além. Ele acredita que essa vida é somente uma passagem para uma vida melhor, perfeita e imutável. Portanto, a vida é depreciada, o homem se martiriza nessa vida esperando uma “recompensa do futuro”, que para Nietzsche não existe. 

Discutiremos agora sobre o segundo niilismo, o niilismo reativo. Quando falamos sobre este niilismo, logo ouvimos “Deus está morto”, é uma frase que pode ter várias interpretações, Deus não existe ou ele de fato está morto. O que Nietzsche quis realmente dizer não tem nada a ver com essa questão. A primeira vez que essa frase surgiu foi em seu livro a gaia ciência, “Os deuses também apodrecem e deus morreu, deus está morto! E nós o matamos.”. 

O niilismo reativo é a perda de valores e costumes cristãos, valores que hoje são conhecidos como leis, como, não matar, não roubar, entre outros. São valores doutrinados e vem conosco, antes de nascermos, devido ao contato social. Mas não foi Nietsche que surgiu com este pensamento, começou muito antes, com os iluministas ou com algumas obras de arte no próprio renascimento. É preciso frisar que a perda dos valores cristãos, pode ter pontos positivos e negativos. Os pontos negativos são a perca de alguns “bons” costumes, como a moralidade e a empatia. 

Afinal o que iria impedir uma pessoa de roubar ou matar? Se não, leis ditas por um ser superior aos olhos humanos, que nos castigará após a morte. É onde notamos os pontos positivos desta doutrina para o homem. será que a evolução do homem foi presa a um sentimento? Será que o medo movia o homem e ainda move? Pode pensar que um homem que não seja doutrinado, mas tem seus próprios princípios de moralidade e então esse homem seria alguém além de nós ou como Nietsche chama “super-homem”.

O Niilismo passivo então, é o terceiro tipo de niilismo, é o que atinge a “nada de vontade”. É a forma mais sombria e vazia dos estágios do niilismo, o ser humano se encontra frente a um abismo e não há respostas para nenhuma pergunta, a pouca credibilidade que se tinha em um sentido da vida ou a busca para se ter sentido, já não existe mais para este niilista. O pessimismo é bem mais forte do que era, toda aquela busca insaciável por respostas, para encontrar um sentido para a vida, para o mundo, foi totalmente em vão para este niilista, pois o mundo realmente não tem e não faz qualquer sentido. Portanto, ele vive uma vida de passado, se martirizando por ter perdido tempo em busca de tudo isso, para então, chegar a este estágio e perceber que o mundo é definitivamente nada e, que todas as perguntas feitas nunca terão respostas. 

Esta forma de niilismo, é conhecida como “Nada de vontade”, ao invés de “Vontade de nada’, porque segundo as concepções de Nietzsche e Schopenhauer, o ser humano pode ter vontade do nada, mas é quase impossível deixar de ter vontade. Então, o niilismo passivo se nomeia assim, pelo fato de que o ser humano não enxerga mais razões para nada e, não há nada de vontade, não existe nem mesmo forças para acabar com o sofrimento.

O último homem não quer valores nem divinos nem humanos, estamos para além do cristianismo, passamos pelo budismo e chegamos no fim: nenhum deus e um só rebanho. Até mesmo o mar secou! As duas formas anteriores ainda tinham em que se segurar, ainda tinham uma vontade de nada, mas o niilista passivo passa para o nada de vontade. É aquele que prefere extinguir-se passivamente. São mortos-vivos: “É preferível um nada de vontade do que uma vontade de nada!”, diz aquele que quer morrer. (RAZÃO INADEQUADA, 2016)

Nietzsche aprofundou seus estudos sobre este niilismo de acordo com a filosofia de Schopenhauer, que dizia que tínhamos que nos esvaziar das vontades, porque a vontade do ter sempre sucede ao vazio, o ter sempre será infinito e, ao ter vamos querer ter outra coisa e assim, se torna um ciclo vicioso, nos impedindo do viver.

Estamos em estado terminal. Aos poucos, a vontade de potência se esgota no niilismo, ela vaza, escoa, procura afirmar-se em outros lugares. O homem cada vez mais doente tem cada vez menos capacidade de afirmar-se. A chama se apaga, surge a escuridão sem fim. Mortos-vivos não encontram vida dentro de si (mesmo ela estando lá), mas ainda se movem. (RAZÃO INADEQUADA, 2016). 

Enfim chegamos ao último niilismo, o ativo, que segundo Nietzsche, representa a chegada de um novo tipo de homem, o “super-homem”, capaz de ultrapassar esses valores instalados, há mais de dois milênios, pela religião e pela metafísica, que dão sentido à vida ligando ao que ela nunca foi, nem nunca será. Esse novo homem é ativo, ele cria, constrói valores que dignificam cada momento da vida. É o homem do “amor fati”, que investe na intensidade da vivência do fato, ou seja, na intensidade de cada momento vivido, por mais duro que seja. Zaratustra surge como esse super-homem, ou seja, um homem que supera a si mesmo a cada momento que passa. 

O Zaratustra se mostra como marco para a transvaloração, a partir dele, novos valores são criados. Nietzsche o considera como aquele que fala de coisas nunca vistas, que exprime de forma máxima sua vontade de potência. É assim que ele se torna o que é, supera-se, transformando-se em adversário proclamado da concepção de grandeza que até então era cultivada entre os homens. Zaratustra não espera encontrar homens a ele semelhantes, ele contenta-se em ser sozinho. 

Outro termo que se mostra bastante enigmático nos escritos de Nietzsche, e que é indispensável para se falar da afirmação da vida ou superação do niilismo é o eterno retorno. O tema do eterno retorno aparece somente quatro vezes no transcorrer das obras do filósofo. 

Seguindo a linha histórica das obras publicadas de Nietzsche, pode-se dizer que a segunda e terceira vez em que essa expressão aparece é exatamente na obra “Assim falou Zaratustra”, especificamente nos capítulos de nome “O convalescente” e “Da visão e do enigma”. Por fim, o tema também chega a aparecer em Além do bem e do mal, no aforismo 56. É importante também enfatizar que o eterno retorno nunca aparece como uma teoria ou mesmo uma tese, mas sempre se mostra como hipótese. Nunca é posto na forma de uma definição, mas sempre no estilo poético. Parece que o Eterno Retorno defende a tese de que polos se alternam nas vivências numa eterna repetição, criação e destruição, alegria e tristeza, saúde e doença, bem e mal, belo e feio e afins, tudo vai e tudo retorna. Porém, esses polos não se opõem, mas são faces de uma mesma realidade, isto é, um complementa o outro, são contínuos de um jogo só. Alegria e tristeza são faces de uma única coisa,  uma única experiência com grau diferente. 

A indagação que Nietzsche nos faz através do aforismo acima, não se trata de uma negação da vida, pelo contrário, nos remete a uma afirmação da vida. Não posso crescer se não experimento declínio, são faces de uma mesma moeda sem demarcação de tempo e exatidão


Referências: 

ANÔNIMO. O que é o Eterno Retorno: Nietzsche. Eterno Retorno, 2008. Disponível em:. Acesso em: 11 nov. 2019. 

ARAÚJO, Joelson. Niilismo ativo: uma perspectiva afirmativa. Trilhas Filosóficas, 2013. Disponível em: . Acesso em: 11 nov. 2019. 

SIQUEIRA, Vinicius. Friedrich Nietzsche, encruzilhadas de um espírito livre. Colunas Tortas, 2015. Disponível em: Acesso em: 12 nov. 2019. 

SIQUEIRA, Vinicius. O niilismo em Nietzsche: decadência como um processo. Colunas Tortas, 2014. Disponível em:. Acesso em: 13 nov. 2019. 

TRINDADE, Rafael. Niilismo Negativo: Platonismo e Cristianismo. Razão Inadequada, 2015. Disponível em: Acesso em: 13 nov. 2019. 

TRINDADE, Rafael. Niilismo Passivo: Nada de Vontade. Razão Inadequada, 2016. Disponível em: . Acesso em: 12 nov. 2019. 

TRINDADE, Rafael. Niilismo Reativo: A Falsa Morte de Deus. Razão Inadequada, 2015. Disponível em: Acesso em: 13 nov. 2019.

RESENHA - "Educar pela Pesquisa" de Pedro Demo

     Pesquisar pela Educação

    Pedro Demo inicia seu livro falando da importância de a pesquisa ser introduzida desde o ensino fundamental até o ensino superior. O objetivo proposto por ele, é de que o professor deve ser um pesquisador juntamente com seus alunos, fazendo assim, com que o aluno seja incentivado a pesquisar.

A pesquisa na educação para Demo, faria com que o professor e o aluno tivessem uma leitura de mundo ampla. A pesquisa na educação vai contra a educação dita pelo autor “copiada”. Que seria, o professor doador de conhecimento, passar seus saberes ao receptor, o aluno, e este mesmo apenas copiar, decorar e sofrer as pressões de uma avaliação para que tenha obrigatoriamente uma nota alta. Na educação copiada o aluno muitas das vezes não aprende, pois por ser uma educação copiada, ele tende a só decorar para dar bons resultados a educação.

Então, para Demo a pesquisa viria com este intuito, Demo claramente refuta esse tipo de educação copiada. A pesquisa para o autor, faria com que o aluno e o professor ficassem mais cientes e conhecedores do que acontece no mundo ao seu redor, anulando então, a ignorância.

Demo então, argumenta também, que a educação teria que ser diferente, pois educação, para ele em geral, qualquer um pode ter, em ambientes familiares, em roda de amigos e afins. A educação com o grande auxílio da pesquisa, proporcionaria outras formas de o aluno aprender muito melhor e tendo o incentivo do professor para pesquisar, ele criaria opinião própria, pensamento crítico, que resultaria em questionamentos críticos. O aluno então, não apenas copiaria, mas aprenderia, e aprendendo o aluno faria reflexões maiores e melhores sobre tudo o que ele viesse ouvir e/ou ler, repetindo então, para dar uma ênfase muito importante, o aluno teria questionamento crítico, se tornando então, um indivíduo autônomo.

Um indivíduo autônomo, com opiniões próprias, não abaixaria mais tão fácil a cabeça para qualquer coisa que lhe fosse de certa forma imposta. Isso ajudaria muito, a diminuir e gradativamente acabar com a educação copiada e com o conceito de indivíduos como objetos e máquinas perante a sociedade.

Se a educação continuar de forma “copiada”, e não fazer seu papel como mediador do conhecimento e incentivar seus alunos a terem autonomia, de nada irá adiantar, então, se a educação continuar assim, qualquer um poderá se intitular como educador/professor e entrar em uma sala de aula para ensinar. E pode-se acreditar que não é isso que queremos como educadores o/ou futuros educadores, as vezes nem mesmo quem está formado para ministrar aulas na educação está capacitado, quem diria então um indivíduo sem se quer uma formação devida para ensinar outrem? Então, como inclusos na sociedade, como alunos e/ou professores, devemos fazer a diferença, fazer nosso real papel como mediadores do conhecimento, sabendo que a educação de modo geral, é algo que depende também de toda a sociedade.  


segunda-feira, agosto 22, 2022

RESENHA - “O queijo e os vermes” de Carlo Ginzburg



Carlo Ginzburg nasceu em Turim no dia 15 de abril de 1939, é um historiador e professor italiano, muito conhecido por seus estudos sobre a micro-história. Ficou famoso no Brasil através da sua obra “O queijo e os vermes” escrita em 1976 e algumas outras obras não menos importante que vieram após esta. Carlo é filho do professor e tradutor Leone Ginzburg e da Romancista Natalia Ginzburg, uma família de Judeus e intelectuais. Como podemos observar, Carlo já tinha uma grande carga familiar para seguir uma carreira como escritor, mas não se limitou só a isto.

Portanto, a micro-história, é considerada um gênero historiográfico surgido com a publicação na Itália, por Carlo e Giovanni Levi, entre 1981 e 1988.

Desde os anos de 1980, levar em consideração as escalas de observação assumiu um lugar importante no debate dos historiadores. O programa de uma micro-história foi recebido como uma proposta nova, incômoda, nem que fosse porque rompia com os hábitos da historiografia dominante. Ele suscitou com certeza mais espanto do que convicção, foi frequentemente acolhido com incompreensões e encontrou, reconheçamos, mais que reticência por parte dos historiadores profissionais. (REVEL, 2010, p. 434)

O papel da micro-história é focar em objetos de pesquisas bem específicos para se ter novas realidades da história. Sendo assim, a micro-história complementa os estudos da História Geral, ela busca pesquisar fatos que a História em si não conta, que pode ser muito importante em um contexto geral.

Enquanto a História Regional corresponde a um domínio ou a uma abordagem historiográfica que foi se constituindo em torno da idéia de construir um espaço de observação sobre o qual se torna possível perceber determinadas articulações e homogeneidades sociais (e a recorrência de determinadas contradições sociais, obviamente), já a Micro-História corresponde a um campo histórico que se refere a uma coisa bem distinta: a uma determinada maneira de se aproximar de uma certa realidade social ou de construir o objeto historiográfico. (BARROS, 2011, p. 152-179)

Retomando então, a obra “O queijo e os vermes” de um dos pioneiros da micro-história Carlo Ginzburg, relata a história de um moleiro italiano nos fatídicos tribunais de inquisição. No início da obra Carlo comenta, “Passei parte do verão de 1962 em Udine. O Arquivo da Cúria Episcopal daquela cidade preserva um acervo de documentos inquisitoriais extremamente rico e, aquela época, ainda inexplorado.” (GINZURG, 2006, p.9). Então, é onde entra o seu papel como pioneiro da micro-história, o que se pode perceber é que ela veio com o intuito de pesquisar fatos e objetos da história até então “menos importante”, como a vida de um moleiro. Esses documentos dito por ele “inexistentes”, na verdade existiam obviamente, mas pelo que parece nenhum historiador teve vontade ou achou importante estudar, analisar aqueles documentos, partindo disto que surgiu a obra “O queijo e os vermes”.

Os documentos claramente eram bem fartos de informações e Carlo soube contar muito bem esta história, se importando com cada detalhezinho do personagem e de toda a história em si. E como naquela época não existiam métodos tão fáceis de pesquisar como hoje e como um bom historiador, Carlo explorava, como conta no início da obra.

Ao folhear um dos volumes manuscritos dos julgamentos, deparei-me com uma sentença extremamente longa. Uma das acusações feitas a um réu era a de que ele sustentava que o mundo tinha sua origem na putrefação. Essa frase atraiu minha curiosidade no mesmo instante, mas eu estava à procura de outras coisas: bruxas, curandeiros, benandanti. Anotei o número do processo. Nos anos que se seguiram, essa anotação ressaltava periodicamente de meus papéis e se fazia presente em minha memória. Em 1970 resolvi tentar entender o que aquela declaração poderia ter significado para a pessoa que a formulara. Durante esse tempo todo a única coisa que sabia a seu respeito era o nome: Domenico Scandella, dito Menocchio. (GINZBURG, 2006 p. 9)

Vamos conhecer então este moleiro, Domenico Scandella, conhecido por Menocchio. “Nascera em 1532 (quando do primeiro processo declarou ter 52 anos), em Montereale, uma pequena aldeia nas colinas do Friuli, a 25 quilômetros de Pordenone, bem protegida pelas montanhas.” (GINZBURG, 2006, p. 31). 

Viveu sempre ali, exceto dais anos de desterro após uma briga (1564-65), transcorridos em Arba, uma vila não muito distante, e numa localidade não precisada da Carnia. Era casado e tinha sete filhos; outros quatro haviam morrido. Declarou ao cônego Giambattista Maro, vigário-geral do inquisidor de Aquiléia e Concórdia, que sua atividade era "de moleiro, carpinteiro, marceneiro, pedreiro e outras coisas". Mas era principalmente moleiro; usava as vestimentas tradicionais de moleiro - veste, capa e capuz de lã branca. E foi assim, vestido de branco, que se apresentou para o julgamento. (GIZBURG, 2006, p. 31)

O pobre Menocchio, visto apenas como moleiro, era sim um trabalhador, que sustentava sua casa como qualquer pai de família daquela época. Menocchio fora acusado por ter sido herege contra Cristo, ou será que ele teria sido apenas herege contra o Cristo que eles pregavam? Seria ele um indivíduo indagador?

Em 28 de setembro de 1583 Menocchio foi denunciado ao Santo Oficio, sob a acusação de ter pronunciado palavras "heréticas e totalmente ímpias" sobre Cristo. Nao se tratara de uma blasfêmia ocasional: Menocchio chegara a tentar difundir suas opiniões, discutindo-as ("praedicare et dogrnatizare non erubescit"; ele não se envergonhava de pregar e dogmatizar). Esse fato agravava muito sua situação. (GIZBURG, 2006, p. 32)

O que podemos entender da frase dita por Menocchio, é que ele claramente faz uma crítica ao jeito que os ensinamentos de Cristo são obedecidos. “Dogmatizar”, significa ensinar com autoridade, que deriva da palavra “Dogma”, que na maioria dos dicionários com diferentes palavras, tem a seguinte definição: Ponto fundamental e indiscutível de uma crença religiosa. Com esta frase, ele talvez queira ter dito que as pessoas seguem cegamente suas crenças como dogmas, sem indagar, sem ter dúvidas, sem questionar, mas o que Menocchio pensa de fato, saberemos mais à frente.

Tais tentativas de proselitismo foram amplamente confirmadas pela investigação que se abriu um mês depois em Portogruaro e prosseguiu em Concórdia e na própria Montereale. “Discute sempre com alguém sobre a fé, e até mesmo com o pároco” - foi o que Francesco Fasseta comentou com o vigário-geral. Segundo outra testemunha, Domenico Melchiori: “Costuma discutir com todo mundo, mas, quando quis discutir comigo, eu lhe disse: ‘Eu sou sapateiro; você, mo1eiro, e você não é culto. Sobre o que é que nós vamos discutir? ‘”. (GIZBURG, 2006, p. 32)

Na época em que ele vivia, a grande imposição dos mais dotados de inteligência sobre religião era grande, existia uma enorme doutrinação e um simples moleiro não tinha capacidade de discutir tais assuntos, na visão da sociedade. As pessoas tinham que apenas abaixar a cabeça para os dogmas impostos pelos líderes religiosos. “Porém, Menocchio dizia não acreditar que o Espírito Santo governasse a Igreja, acrescentando: “Os padres nos querem debaixo de seus pés e fazem de tudo para nos manter quietos, mas eles ficam sempre bem”; e ele “conhecia Deus melhor do que eles””. (GINZBURG, 2006, p.32).

Se a sociedade naquele tempo estava debaixo de doutrinações religiosas, certamente alguém que fizesse tais comentários afirmativos sob estes dogmas não seria visto de uma boa forma pela sociedade e se tornaria uma ameaça para a Igreja. “E, quando o pároco da vila o levara a Concórdia para se encontrar com o vigário-geral, a fim de que suas ideias clareassem, dizendo-lhe “esses seus caprichos são heresias””. (GINZBURG, 2006, p. 33).

Tinha prometido não se meter mais em tais assuntos - todavia, logo depois recomeçou. Na praça, na taverna, indo para Grizzo ou Daviano, vindo da montanha - “não se importando com quem fala”, comenta Giuliano Stefanut, “ele geralmente encaminha a conversa para as coisas de Deus, introduzindo sempre algum tipo de heresia. E então discute e grita em defesa de sua opinião”. (GINZBURG, 2006, p. 33)

A partir desta leitura, Menocchio era visto como um simples moleiro, não pertencia a grande parte “nobre”, e fora perceptivelmente proibido de expressar suas opiniões sobre religião, Deus e afins. Era visto, ressaltando o último parágrafo como uma ameaça aos dogmas que a Igreja impunha para seguir com uma sociedade “mais civilizada”. Se ele continuasse indagando as crenças, outras pessoas poderiam seguir suas ideias e opiniões e isso não seria muito bom para a Igreja. Algumas pessoas preocupadas com Menocchio ou com medo do que lhe poderia acontecer, avisavam ele: “Menocchio, pelo amor de Deus, não vai falando essas coisas por ai!”. (GINZBURG, 2006, p. 33).

Eu te disse várias vezes, especia1mente uma, indo para Grizzo, que eu gostava dele, mas não podia suportar seu jeito de falar das coisas da fé, que sempre discutiria com ele e que, se cem vezes me matasse e depois eu voltasse a viver, continuaria a me deixar matar pela fé". (GINZBURG, 2006, p. 33).

“O padre Andrea Bionima havia até mesmo feito urna ameaça velada: “Cale a boca, Domenego, não diga essas coisas, porque um dia você se arrepende””. (GINZBURG, 2006, p. 33). As pessoas viam e diziam que Monecchio já tinha má fama e opiniões erradas. (GIZNBURG, 2006). Carlo faz um comentário bem válido para a história do injustiçado moleiro: 

Aparentemente algumas afirmaçõs de Menocchio remontavam não apenas há poucos dias, mas há “muitos anos”, até mesmo há trinta anos. Durante todo esse tempo ninguém o denunciara na cidade, embora seus discursos fossem conhecidos por todos. As pessoas repetiam as palavras dele, algumas com curiosidade, outras balançando a cabeça. (GINZBURG, 2008, p. 34)

“É verdade que entre aqueles existiam parentes, como Francesco Fasseta ou Bartolomeo di Andrea, primo de sua mulher, que o definiram como “homem de bern””. (GINZBURG, 2006, p.34). Menocchio não acreditava no Deus que era pregado, evidentemente. Começou a indagar as leis de Deus, pensava que tudo aquilo que foi dito por Deus não poderia ser verdadeiro. 

É verdade que eu falei disso com várias pessoas, mas não forçava ninguém a acreditar; pelo contrário, convenci muitos dizendo: ‘Vocês querem que eu ensine a estrada verdadeira? Tente fazer o bem, trilhar o caminho dos meus antecessores e seguir o que a Santa Madre Igreja ordena’. Mas aquelas palavras que eu disse antes eu dizia por tentação, porque acreditava nelas e queria ensiná-las aos outros; era o espírito maligno que me fazia acreditar naquelas coisas e ao mesmo tempo me instigava a dize-las aos outros". (GINZBURG, 2006, p. 36)

Pode-se dizer que Monecchio acreditava que dentro da Igreja existia um espírito maligno que doutrinava as pessoas e lhes-cegavam e fez isso com ele também, não acreditava que existira um espírito Santo e bom como era pregado. 

Segundo Carlo: “Com tais palavras Menocchio confirmava a suspeita de que ele tivesse desempenhado, na aldeia, o papel de professor de doutrina e de comportamento”. (GINZBURG, 2006, p. 36). Com este comentário, podemos até pensar que Menocchio queria doutrinar as pessoas também, mas com ideias diferentes. Mas Menocchio, com seus pensamentos podemos interpretar ele de várias formas. Um doutrinador ou apenas alguém que achava Deus um tanto soberbo e injusto que queria que todos lhe servissem?

Eu disse que segundo meu pensamento e crença tudo era um caos, isto é, terra, ar, água e fogo juntos, e de todo aquele volume em movimento se formou uma massa, do mesmo modo como o queijo é feito do leite, e do qual surgem os vermes, e esses foram os anjos. A santíssima majestade quis que aquilo fosse Deus e os anjos, e entre todos aqueles anjos estava Deus, ele também criado daquela massa, naquele mesmo momento, e foi feito senhor com quatro capitães: Lúcifer, Miguel, Gabriel e Rafael. O tal Lúcifer quis se fazer de senhor, se comparando ao rei, que era a majestade de Deus, e por causa dessa soberba Deus ordenou que fosse mandado embora do céu com todos os seus seguidores e companhia. Esse Deus, depois, fez Adão e Eva e o povo em enorme quantidade para encher os lugares dos anjos expulsos. O povo não cumpria os mandamentos de Deus e ele mandou seu filho, que foi preso e crucificado pelos judeus. E acrescentou: “Eu nunca disse que ele se deixara abater feito um animal”. (GINZBURG, 2006, p. 37)

“Tudo pertence à Igreja e aos padres. Eles arruínam os pobres. Se têm dois campos arrendados, esses são da Igreja, de tal bispo ou de tal cardeal” (SCANDELLA IN GINZBURG, 1987, p. 63). Monecchio Infelizmente tempo depois foi condenado, porque claramente não aceitou abaixar a cabeça para as doutrinações impostas e sendo assim não sossegou até ser condenado e morrer. 

Carlo percebeu que naquela época venciam apenas os dominantes e que os dominados não tinham voz. Ressaltando a ideia de que as histórias sempre são contadas pelos vencedores, mas e os vencidos? Também não são indivíduos com suas próprias histórias para contar? Porque ninguém lhes dão ouvidos ou importância? Como futuros historiadores, podemos seguir a ideia da micro-história, não contar só um lado da história, porque afinal cada história tem vários lados e é contado por quem viveu de formas diferentes, e cada qual tem sua importância. A história do moleiro por exemplo, nos mostra que a Igreja não era tão boazinha como nos contam quando somos crianças, mas obviamente isso não quer dizer que Monecchio estava certo sobre a existência de Deus, talvez ele só estivesse indagando e criticando a Igreja e a forma como os indivíduos como ele eram vistos e tratados, não podendo expressar quais quer opiniões contrárias. Esperamos que a liberdade de expressão seja um direito de qualquer ser humano.


(2014) The Physician: "O Físico" - um resumo, uma análise com base em conhecimentos históricos



 

Nesse filme a história se passa por volta do século XI, com sua narrativa voltada para um jovem inglês chamado Rob Cole. Cole que perde sua mãe, quando ainda criança, por uma doença dita até então incurável, colocavam na “mão de Deus”, eles nomearam-na “doença do lado”. Logo após do ocorrido seus irmãos foram adotados por outra família, Rob Cole não por que já era grande, poderia dar gastos com o alimentos e por isso já poderia seguir seu próprio rumo.

Na noite que sua mãe morrera, ele conhece um tal de “Barbeiro” chamado Bader, prometendo curar doenças, atendendo a qualquer que precisasse e pudesse pagar. Ele se junta a Bader, tornando-se uma espécie de aprendiz. 

Passam anos, Rob acumula conhecimentos de Bader sobre cuidar de pessoas doentes, mais o garoto é ambicioso e sonha obter mais conhecimento na arte da cura. Ao decorrer de suas viagens, por causa de uma cegueira em Bader,  Rob Cole é nomeado um “Barbeiro”, pelo fato de Bader não conseguir fazer os procedimentos de um “Barbeiro”. 

Eles descobrem um Judeu que poderia curar a sua cegueira, foram até o Judeu curandeiro. Bader então é curado de sua cegueira, isso desperta um enorme interesse em Rob, é onde ele acaba ouvindo sobre um mestre, considerado o melhor “curandeiro” ou “médico” do Oriente, chamado Ibn Sina, mas só poderia entrar em terras Persas, se fosse Judeu, pelo fato de cristãos serem proibidos naquelas terras, mas Rob deixa de lado sua religião(Cristã) para ter o mais queria, sabedoria. Enfim ele sai em sua jornada da Inglaterra até a Pérsia.

Até essa parte da decisão de Rob Cole de ir para o Oriente, vemos um cenário sombrio, com poucas luzes, com mortes, que geram tristeza, com separação de irmãos, faz nós telespectadores gerar pensamentos negativos sobre tal período, também vemos a medicina em sua formação e aprimoramento, as cirurgias eram feitas sem nenhum tipo de anestesia. Mas com esses pensamentos de preconceito imposto pelos renascentistas, no século XVI, é normal para um filme se basear somente nesses tais preconceitos, eles são produzidos para nos prender a atenção com um enredo romantizado.

Uma cena me chamou atenção, durante o trajeto de Rob para o Oriente, ele conhece uma jovem mulher árabe, chamada Rebecca, que falam sobre seus motivos de irem à Pérsia; ele fala sobre sua sedenta cede de conhecimento, mas Rebecca fala apenas isso, “uma negociação”. Mais para frente no filme eles se reencontram, e Rob entende o que era de fato a tal “negociação”. Os casamentos eram vistos como uma forma de unificar patrimônios e riquezas, de fato um negócio, por mais que ela não “amasse” aquela pessoa, teria que se casar por obrigação, para o tal “negócio” ocorresse.

Já no Oriente, a visão sombria se deixa de lado em certo período, se percebe o aprimoramento em algumas questões de sociedade, uma delas seria na parte da medicina, em comparação com a primeira parte do filme que se passa na Inglaterra; é um sistema mais organizado, o sistema de controle de doenças mais aprimorado, eles já tinham controlado a peste negra, mas volta como é visto no filme, por causa de conflitos entre reinos, mas novamente foi controlada. Com cenas mais claras, mas que também contém mortes, tristezas, mas alegria sendo predominante. 

Nos foi apresentado esse filme, na finalidade de nós observarmos, com base da desconstrução do termo “Idade Média”, o filme nos traz duas sociedades em contextos parecidos, mas ao mesmo tempo diferentes, com outras experiências, dentro do mesmo período. Onde há, de certo modo, uma tentativa de mostrar que o preconceito no Ocidente com o Oriente, é reciproco.

Nós como estudantes/apreciadores/entusiastas de História, devemos acabar com esse pensamento renascentista de que a “Idade Média” foi algo ruim, que foi um intervalo no tempo. 


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